O aluno surdo na escola regular: imagem e ação do professor
Este estudo teve como origem a atuação de uma psicóloga que desenvolve um trabalho de orientação destinado a pais de crianças surdas que freqüentam escola regular e recebem atendimento especializado no Centro de Estudos e Pesquisas em Reabilitação (Cepre – Unicamp).
No trabalho realizado com as famílias de crianças surdas, as mães queixam-se de que a inclusão não vem ocorrendo como desejariam. Seus filhos têm mais dificuldades para aprender, sobretudo em função da falta de preparo especializado dos professores. O fato de o professor não estar devidamente preparado para receber o aluno surdo é realidade, e acontece com a maioria dos professores de escola regular. Assim, quando o professor recebe esse aluno, muitas vezes exibe idéias preconcebidas ou concepções equivocadas a respeito da surdez, muitas vezes atribuindo ao aluno imagens depreciativas.
Essas imagens se refletem na própria postura do professor frente a suas ações em relação às crianças. São justamente estas ações que as mães relatavam como queixas no atendimento em grupo realizado pelo Setor de Psicologia, pedindo orientações tanto para ela como para o professor. Foi neste cenário, de ansiedade e angústia das mães, de discussão destas dificuldades com os profissionais do Programa de Apoio à Escolaridade, que se deu início ao trabalho de busca de dados junto aos professores da escola comum, na tentativa de se definir qual a imagem que estes profissionais têm do aluno surdo, da surdez e do processo ensino-aprendizagem, analisando-se, assim, a influência desta imagem na prática pedagógica.
Para conceituar imagem, recorreu-se a trabalhos da Psicologia Social, mais especificamente às idéias de Serge Moscovici. Para Moscovici (1978), a imagem faz parte das representações sociais que subjazem aos nossos atos e nos tornam comuns.
Ao longo de sua obra, Moscovici (1978) faz uma diferença entre imagem e representação social. A imagem é vista como passiva, apreendida de forma reflexa, na consciência individual ou coletiva de um objeto, de um feixe de idéias que lhe é exterior. A representação, por outro lado, deve ser encarada de um modo ativo, pois seu papel consiste em modelar o que é dado do exterior, na medida em que os indivíduos e os grupos se relacionam de preferência com os objetos, os atos e as situações são constituídos por miríades de interações sociais. Em outras palavras, a representação social é uma modalidade de conhecimento particular que tem por função a elaboração de comportamentos e a comunicação entre os indivíduos.
Embora Moscovici (1978) faça uma diferença entre imagem e representação social, ele admite que imagem é utilizada para designar uma organização mais complexa ou mais coerente de juízos de valor ou de avaliação. É concebida como reflexo interno de uma realidade externa, cópia fiel no espírito do que se encontra fora dele, sendo assim uma reprodução passiva de um dado imediato. O autor considera que o indivíduo carrega em sua memória uma coleção de imagens do mundo sob seus diferentes aspectos; é como se essas imagens fossem espécies de ''sensações mentais'', de impressões que os objetos e as pessoas deixam em nosso cérebro.
O termo imagem será utilizado no decorrer deste trabalho para se referir ao resultado das representações sociais que os sujeitos constroem no contato com os objetos, com as pessoas e com as situações vivenciadas no mundo.
No convívio social e escolar, os sujeitos interagem com base na imagem que fazem de si e do outro. Esta imagem, que se faz das pessoas e mesmo das coisas, não se processa em um vácuo cultural, mas em uma sociedade, com suas tradições, influências históricas e condicionamentos econômicos.
Data: 10-01-2006
Este estudo teve como origem a atuação de uma psicóloga que desenvolve um trabalho de orientação destinado a pais de crianças surdas que freqüentam escola regular e recebem atendimento especializado no Centro de Estudos e Pesquisas em Reabilitação (Cepre – Unicamp).
No trabalho realizado com as famílias de crianças surdas, as mães queixam-se de que a inclusão não vem ocorrendo como desejariam. Seus filhos têm mais dificuldades para aprender, sobretudo em função da falta de preparo especializado dos professores. O fato de o professor não estar devidamente preparado para receber o aluno surdo é realidade, e acontece com a maioria dos professores de escola regular. Assim, quando o professor recebe esse aluno, muitas vezes exibe idéias preconcebidas ou concepções equivocadas a respeito da surdez, muitas vezes atribuindo ao aluno imagens depreciativas.
Essas imagens se refletem na própria postura do professor frente a suas ações em relação às crianças. São justamente estas ações que as mães relatavam como queixas no atendimento em grupo realizado pelo Setor de Psicologia, pedindo orientações tanto para ela como para o professor. Foi neste cenário, de ansiedade e angústia das mães, de discussão destas dificuldades com os profissionais do Programa de Apoio à Escolaridade, que se deu início ao trabalho de busca de dados junto aos professores da escola comum, na tentativa de se definir qual a imagem que estes profissionais têm do aluno surdo, da surdez e do processo ensino-aprendizagem, analisando-se, assim, a influência desta imagem na prática pedagógica.
Para conceituar imagem, recorreu-se a trabalhos da Psicologia Social, mais especificamente às idéias de Serge Moscovici. Para Moscovici (1978), a imagem faz parte das representações sociais que subjazem aos nossos atos e nos tornam comuns.
Ao longo de sua obra, Moscovici (1978) faz uma diferença entre imagem e representação social. A imagem é vista como passiva, apreendida de forma reflexa, na consciência individual ou coletiva de um objeto, de um feixe de idéias que lhe é exterior. A representação, por outro lado, deve ser encarada de um modo ativo, pois seu papel consiste em modelar o que é dado do exterior, na medida em que os indivíduos e os grupos se relacionam de preferência com os objetos, os atos e as situações são constituídos por miríades de interações sociais. Em outras palavras, a representação social é uma modalidade de conhecimento particular que tem por função a elaboração de comportamentos e a comunicação entre os indivíduos.
Embora Moscovici (1978) faça uma diferença entre imagem e representação social, ele admite que imagem é utilizada para designar uma organização mais complexa ou mais coerente de juízos de valor ou de avaliação. É concebida como reflexo interno de uma realidade externa, cópia fiel no espírito do que se encontra fora dele, sendo assim uma reprodução passiva de um dado imediato. O autor considera que o indivíduo carrega em sua memória uma coleção de imagens do mundo sob seus diferentes aspectos; é como se essas imagens fossem espécies de ''sensações mentais'', de impressões que os objetos e as pessoas deixam em nosso cérebro.
O termo imagem será utilizado no decorrer deste trabalho para se referir ao resultado das representações sociais que os sujeitos constroem no contato com os objetos, com as pessoas e com as situações vivenciadas no mundo.
No convívio social e escolar, os sujeitos interagem com base na imagem que fazem de si e do outro. Esta imagem, que se faz das pessoas e mesmo das coisas, não se processa em um vácuo cultural, mas em uma sociedade, com suas tradições, influências históricas e condicionamentos econômicos.
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