terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Diferenciais de uma nova escola


JOSÉ MANOEL MORAN
Uma escola é nova quando tem educadores, materiais, atividades e ambientes de aprendizagem - físicos e virtuais - acolhedores, estimulantes e desafiadores para os alunos.

 Profissionais acolhedores: diretores, coordenadores, professores que se preocupam com os alunos, que os conhecem, conversam, interagem. Uma escola é nova quando mantém a mesma equipe unida por bastantes anos, quando se percebe que todos se apóiam e há uma gestão democrática, proativa e empreendedora. Profissionais bem preparados, atualizados, evoluídos. Bem remunerados, escolhidos entre os melhores e que gostam de ser educadores.
 Ambientes acolhedores: aconchegantes, afetivos, equipados. Salas de aula multifuncionais, que se modificam rapidamente para diferentes atividades. Salas de aula conectadas com tecnologias móveis. Escola que equilibra atividades presenciais e virtuais, tecnologias simples e tecnologias digitais, onde se aprende também em casa, no bairro, nas comunidades de prática, nas redes sociais, com ativa participação dos pais.

 Uma escola onde os materiais principais estão disponíveis no ambiente digital e são apreendidos de múltiplas formas, com técnicas diferentes, atrativas, simples e complexas. Escola que estimula múltiplas leituras de múltiplos textos de múltiplas formas: impressos, digitais, multimídia; simples e complexos; com histórias e conceitos; multitextos significativos contextualizados, compartilhados, reinterpretados, co-produzidos presencial e digitalmente, publicados, vivenciados. 
 
 Conteúdos articulados a muitos desafios, projetos inovadores, com muita ênfase em pesquisa, compartilhamento, discussão, produção, sínteses, práticas refletidas, colaborativas, com flexibilidade de espaços e tempos, de momentos presenciais e virtuais, com atividades grupais e individuais, com bastante feedback, atenção, cuidado.

 Uma escola que integra o melhor do presencial e do virtual, que trabalha primeiro as atividades através de ambientes e aplicativos digitais e que aprofunda e finaliza cada assunto mais importante na sala de aula, com os professores-orientadores.

 Uma escola em que as aulas com tablets, netbooks e smartphones são focadas, além de temas relevantes, em projetos colaborativos, onde os alunos aprendem juntos, realizam atividades em ritmos e tempos diferentes. Os professores descem do pedestal e desempenham fundamentalmente o papel de orientadores. Saem do centro, do estrado, da lousa para circular, orientando os alunos individualmente e em pequenos grupos nas atividades de pesquisa, análise, apresentação, contextualização e síntese, de forma semi-presencial.

 Uma escola pluralista num mundo complexo, que mostra visões, formas de viver e diferentes possibilidades de realização pessoal, profissional e social, que nos ajudem a evoluir sempre mais na compreensão, vivência e prática cognitiva, emotiva, ética e de liberdade.
 Essa nova escola ainda está em construção, mas é urgente nosso envolvimento em concretizá-la, para conseguir atrair as crianças e os jovens, que até agora só conheceram, na educação formal, modelos analógicos, anacrônicos e envelhecidos. 
A AFETIVIDADE NA RELAÇÃO PEDAGÓGICA
José Manoel Moran
A educação, como as outras instituições, tem se baseado na desconfiança, no medo a sermos enganados pelos alunos, na cultura da defesa, da coerção externa. O desenvolvimento da auto-estima é um grande tema transversal. É um eixo fundamental da proposta pedagógica de qualquer curso. Este é um campo muito pouco explorado, apesar de que todos concordamos que é importante. Aprendemos mais e melhor se o fazemos num clima de confiança, de incentivo, de apoio, de auto-conhecimento. Se estabelecemos relações cordiais, de acolhimento para com os alunos, se nos mostramos pessoas abertas, afetivas, carinhosas, tolerantes e flexíveis, dentro de padrões e limites conhecidos. “Se as pessoas são aceitas e consideradas, tendem a desenvolver uma atitude de mais consideração em relação a si mesmas”[1].

Temos baseado a educação mais no controle do que no afeto, no autoritarismo do que na colaboração. “Talvez o significado mais marcante de nosso trabalho e de maior alcance futuro seja simplesmente nosso modo de ser e agir enquanto equipe. Criar um ambiente onde o poder é compartilhado, onde os indivíduos são fortalecidos, onde os grupos são vistos como dignos de confiança e competentes para enfrentar os problemas - tudo isto é inaudito na vida comum. Nossas escolas, nosso governo, nossos negócios estão permeados da visão de que nem o indivíduo nem o grupo são dignos de confiança. Deve existir poder sobre eles, poder para controlar. O sistema hierárquico é inerente a toda a nossa cultura”.[2]
A afetividade é um componente básico do conhecimento e está intimamente ligado ao sensorial e ao intuitivo. A afetividade se manifesta no clima de acolhimento, de empatia, inclinação, desejo, gosto, paixão, de ternura, da compreensão para consigo mesmo, para com os outros e para com o objeto do conhecimento. A afetividade dinamiza as interações, as trocas, a busca, os resultados. Facilita a comunicação, toca os participantes, promove a união. O clima afetivo prende totalmente, envolve plenamente, multiplica as potencialidades. O homem contemporâneo, pela relação tão forte com os meios de comunicação e pela solidão da cidade grande, é muito sensível às formas de comunicação que enfatizam os apelos emocionais e afetivos mais do que os racionais.
A educação precisa incorporar mais as dinâmicas participativas como as de auto-conhecimento (trazer assuntos próximos à vida dos alunos), as de cooperação (trabalhos de grupo, de criação grupal) e as de comunicação (como o teatro ou a produção de um vídeo).
Na educação podemos ajudar a desenvolver o potencial que cada aluno tem, dentro das suas possibilidades e limitações. Para isso, precisamos praticar a pedagogia da compreensão contra a pedagogia da intolerância, da rigidez, a do pensamento único, da desvalorização dos menos inteligentes, dos fracos, problemáticos ou “perdedores”.

Praticar a pedagogia da inclusão. A inclusão não se faz somente com os que ficam fora da escola. Dentro da escola muitos alunos são excluídos pelos professores e colegas. São excluídos quando nunca falamos deles, quando não os valorizamos, quando os ignoramos continuamente. São excluídos quando supervalorizamos alguns, colocando-os como exemplos em detrimento de outros. São excluídos quando exigimos de alunos com dificuldades de aceitação e de relacionamento, resultados imediatos, metas difíceis para eles no campo emocional.
Há uma série de obstáculos no caminho: a formação intelectual valoriza mais o conteúdo oral e textual, separando razão e emoção. O professor não costuma ter uma formação emocional, afetiva. Por isso, tende a enxergar mais os erros que os acertos. A falta de valorização profissional também interfere na auto-estima. Se os professores não desenvolvem sua própria auto-estima, se não se dão valor, se não se sentem bem como pessoas e profissionais, não poderão educar num contexto afetivo. Ninguém dá o que não tem. Por isso, é importante organizar atividades com gestores e professores de sensibilização e técnicas de auto-conhecimento e auto-estima. Ter aulas de psicologia para auto-conhecimento e especialistas em orientação psicológica. Ações para que alunos e professores desenvolvam sua autoconfiança, sua auto-estima; que tenham respeito por si mesmos e acreditem em si; que percebam, sintam e aceitem o valor pessoal e o dos outros . Assim será mais fácil aprender e comunicar-se com os demais. Sem essa base de auto-estima, alunos e professores não estarão inteiros, plenos para interagir e se digladiarão como opostos, quando deveriam ver-se como parceiros.

(Texto mais completo em: www.eca.usp.br/prof/moran/afetividade.htm )


[1] Carl ROGERS. Um jeito de ser, p. 39.[2] Ibid, p.65-66.
Avaliação escolar: limites e possibilidades

Clarilza Prado de Souza


Alguma vez você já pensou que a avaliação fosse parecida com um remédio? Idéia estranha, não é? Mas, neste texto, você vai perceber que a avaliação, assim como os remédios, tem propriedades, pode produzir reações adversas e efeitos colaterais. E ainda mais: que devem ser tomadas precauções ao utilizá-la, que existemindicações e contra-indicações, assim como há uma maneira correta de empregá-la (posologia).
Confira o texto e faça uma reflexão sobre a forma como você tem utilizado esse remédio.

Clique aqui para ler o texto na íntegra. Para isso você precisa ter o programa Acrobat Reader. Para instalá-lo, clique aqui.
"O processo avaliativo parte do pressuposto de que se defrontar com dificuldades é inerente ao ato de aprender. Assim, o diagnóstico de dificuldades e facilidades deve ser compreendido não como um veredito que irá culpar ou absolver o aluno, mas sim como uma análise da situação escolar atual do aluno, em função das condições de ensino que estão sendo oferecidas. Nestes termos, são questões típicas de avaliações:
- Que problemas o aluno vem enfrentando?
- Por que não conseguiu alcançar determinados objetivos?
- Qual o processo de aprendizagem desenvolvido?
- Quais os resultados significativos produzidos pelo aluno?"
-
"Precauções: A avaliação escolar não deve ser empregada quando não se tem interesse em aperfeiçoar o ensino e, conseqüentemente, quando não se definiu o sentido que será dado aos resultados da avaliação.
A avaliação escolar exige também que o professor tenha claro, antes de sua utilização, o significado que ele atribui a sua ação educativa."
"Contra-indicações: A avaliação é contra-indicada como único instrumento para decidir sobre aprovação e reprovação do aluno. O seu uso somente para definir a progressão vertical do aluno conduz a reduções e descompromissos. A decisão de aprovação e retenção do aluno exige do coletivo da Escola uma análise das possibilidades que essa Escola pode oferecer para garantir um bom ensino.
A avaliação escolar também é contra-indicada para fazer um diagnóstico sobre a personalidade do aluno, pois sua abrangência limita-se aos objetivos do ensino do programa escolar.
A avaliação escolar é contra-indicada para fazer prognóstico de sucesso na vida. Contudo, o seu mau emprego pode expulsar o aluno da Escola, causar danos em seu autoconceito, impedir que ele tenha acesso a um conhecimento sistematizado e, portanto, restringir a partir daí suas oportunidades de participação social."
Publicação: Série Idéias n. 22. São Paulo: FDE, 1994
Páginas: 89-90

Alfabetização e Letramento

E-mailImprimirPDF
Rob Gonçalves
ssa imagem ilustra bem o conceito de letramento. É abrir as portas e janelas do mundo por meio da leitura, da oralidade e ser capaz de se relacionar bem nas diversas práticas sociais.
"Letramento é, sobretudo, um mapa do coração do homem, um mapa de quem você é, e de tudo que pode ser. "                               
Magda Soares
O tema foi iniciado pela professora Rosineide Magalhães (CFORM/UnB). Vimos primeiro que a leitura e a escrita devem ser concebidas dentro de práticas sociais, tornando o aluno capaz de participar de sua comunidade de forma efetiva.

Conceitos:
Letramento: conjunto de práticas que denotam a capacidade de uso de diferentes tipos de material escrito. HOUAISS, 2004
Alfabetização: é um processo dentro do letramento e, segundo Magda Soares, é a ação de ensinar/aprender a ler e a escrever.
A criança, mesmo não alfabetizada, já pode ser inserida em um processo de letramento. Pois, ela faz a leitura incidental de rótulos, imagens, gestos, emoções. O contato com o mundo letrado é muito entes das letras e vai além delas. Sendo assim chegamos à seguinte pergunta: 

Para que serve a escrita então?
Segundo a professora Rosineide Magalhães, no texto “Letramento como Prática Social”, a escrita e a leitura são consumidas, hoje, pelas pessoas como meio de sobrevivência, com o objetivo de formação acadêmica, profissional, integração e interação social, resolução de problemas cotidianos, condição de entender o mundo e suas tecnologias.
Há diferentes tipos de letramentos associados a diferentes domínios sociais, por exemplo: letramento tecnológico, literário, religioso. O letramento autônomo é aquele que acontece somente dentro da escola, desvinculado do mundo. Tais formas estão incluídas ou no letramento formal, legitimado; ou no informal, incidental.
Para aprofundamento teórico utilizamos um material do livro Letramento: um tema em três gêneros de Magda Soares. A autora coloca três perguntas ao longo do texto e mostra vários exemplos para levar a compreensão do termo letramento. São elas:
                Qual é o significado dessa palavra letramento?
                Por que surgiu essa nova palavra, letramento?
                Onde fomos buscar essa nova palavra, letramento? 

Preparei o material da aula na tutoria respondendo tais questionamentos. Coloquei também o letramento na educação infantil, que se dá basicamente por meio da oralidade e das múltiplas linguagens.

Slides: Letramento na EI 
                Em outro momento trabalhamos com o texto: A Organização de Atividades Culturalmente Significativas de Zilma Ramos de Oliveira, para tratar do trabalho pedagógico com múltiplas linguagens. Nós lemos o texto e respondemos o seguinte roteiro de trabalho:
               
1 - Identifique as diferentes linguagens presentes nas atividades da educação infantil.
     Linguagens corporal, plástica, musical, dramática, oral, escrita, natural, emocional.
2 -  Como podemos organizar as linguagens no currículo da educação infantil? 
     Devem-se prever momentos e atividades, no cotidiano escolar, que contemplem todas as linguagens. Fazendo com que a criança se torne capaz de utilizar com eficiência as diferentes formas de se comunicar. Na educação infantil o currículo deve ser flexível e pensado a partir daquilo que se constitui o meio de desenvolvimento da criança e das praticas sociais que ali acontecem.
3 - O jogo na educação infantil constitui diferentes linguagens? Reflita e argumente.
     Sim, o jogo é constituído pelas linguagens corporal, simbólica, oral, dentre outras. Isso proporciona o desenvolvimento de processos psicológicos como a memória e a capacidade de se expressar utilizando as diversas linguagens.
               
4 - Estabeleça a relação jogo x desenvolvimento da criança x linguagem.
      Piaget descreve as fases do jogo:
                        Jogos de exercício sensório motor: Simples exercícios motores por prazer.
Jogos simbólicos: Meio de assimilação do real e de auto-expressão. Satisfazer o eu por meio da transformação do real em função de seus desejos (liquidação de conflitos, compensação de necessidades não satisfeitas, inversão de papéis).
Jogos de regras: Conduta lúdica que supõe relações sociais claras, pois a regra é uma ordenação, uma regularidade imposta pelo grupo, sendo que sua violação é considerada uma falta.
Com a teoria de Piaget percebemos que o desenvolvimento acontece na interação da criança com o ambiente que o cerca. Mais precisamente, com a intervenção, a ação do sujeito nesse processo. No jogo, a criança experimenta seu meio, as relações sociais ali existentes e formula hipóteses sobre o funcionamento da língua e as testa em novos encontros sociais.

 
No encontro com a professora Márcia Gondim, fizemos a técnica da tempestade de idéias com os conceitos de letramento e alfabetização.
Alfabetização 
Ensinar o código escritoSignos e seus significadosEnsinar a leituraCodificação e decodificaçãoParticipação em um mundo desconhecido
Letramento 
Refletir, interpretarLeitura e compreensão de textosLeitura de mundoFunção socialRespeito às diferenças culturaisPráticas sociais que utilizam a escritaLibertação, construção da autonomia
               Na exposição teórica, Márcia abordou pontos que serviram de base para reformular as idéias colocadas no início e construir nossos próprios conceitos. São eles:

Competência lingüística: todo falante nativo de uma língua possui, é a capacidade de se comunicar adquirida culturalmente.
Competência comunicativa: é a capacidade de transitar em diferentes domínios sociais, é adquirida na escola.
O papel da escola é trabalhar a competência comunicativa sem desvalorizar a cultura do aluno, aquilo que traz de seu meio social. Mostrar as diferentes formas de falar.
A escola é o ambiente de letramento e o professor é o agente.
Quanto à fala não existe certo ou errado, existe o adequado ou inadequado a determinadas situações.
Ratificação da fala: repetir de acordo com a norma padrão sem constranger.
Para cada contexto social temos uma forma de falar.
No processo de educação acontece a transposição da cultura do lar para a escolarizada, elas se somam na escola.
Para Magda Soares alfabetismo é outro termo para designar letramento.
O conceito de alfabetização para Magda Soares é restrito, refere-se apenas ao aprender/ensinar a ler e escrever. Já Emília Ferreiro coloca que não precisa usar outro termo (no caso letramento) para designar algo que já deveria estar dentro do processo de alfabetização.

Na aula estidamos o texto Alfabetização e Letramento: Caminhos e descaminhos de Magda soares. Eu trabalhei especificamente com minhas turmas as facetas da aprendizagem da leitura e da escrita. Após a explicação as cursistas identificaram cada uma das facetas em algumas atividades práticas descritas nos fascículos do Módulo 3.

Facetas da aprendizagem da leitura e da escrita:
1 - Faceta fônica: envolve o desenvolvimento da consciência fonológica, imprescindível para que a criança tome consciência da fala como um sistema de sons e compreenda o sistema de escrita como um sistema de representação desses sons, e a aprendizagem das relações fonema-grafema e demais convenções de transferência da forma sonora da fala para a forma gráfica da escrita.
2 - Faceta da leitura fluente: exige o reconhecimento holístico de palavras e sentenças.
3 - Faceta da leitura compreensiva: supõe ampliação de vocabulário e desenvolvimento de habilidades como interpretação, avaliação, inferência, entre outras.
4 - Faceta da identificação e uso adequado das diferentes funções da escrita, dos diferentes portadores de texto, dos diferentes tipos e gêneros de texto.

Na tutoria, promovemos uma palestra com a professora Madalena Torres sobre alfabetização e letramento, cujo material está disponibilizado abaixo:

Conceitos de letramento:
Do ponto de vista social, o letramento é um fenômeno cultural relativo às atividades que envolvem a língua escrita.  A ênfase recai nos “usos, funções e propósitos da língua escrita no contexto social” (SOARES, 2006).
                           
                       “Processo de inserção e participação na cultura escrita”. (VAL, 2006)

            “Compreensão e uso efetivo da língua escrita em práticas sociais diversificadas”. (Ibid)

             “Possibilidades de participação nas práticas sociais que envolvem a língua escrita” (Ibid)

             “Saber utilizar a língua escrita nas situações em que esta é necessária, lendo e produzindo textos” (BATISTA, 2003 in VAL, 2006, p. 19).

             “Conjunto de conhecimentos, atitudes e capacidades, necessário para usar a língua nas práticas sociais” (BATISTA, 2003 in VAL, 2006, p. 19).
                           “... entendido como o desenvolvimento de comportamentos e habilidades de uso competente da leitura e da escrita em práticas sociais” (SOARES, 2004).                              
                            “O letramento abrange o processo de desenvolvimento e o uso dos sistemas da escrita nas sociedades, ou seja, o desenvolvimento histórico da escrita refletindo outras mudanças sociais e tecnológicas, como a alfabetização universal, a democratização do ensino, o acesso a fontes aparentemente ilimitadas de papel, o surgimento da internet.” (KLEIMAN, 2005).
 Conceitos de alfabetização:
“Processo específico e indispensável de apropriação do sistema da escrita, a conquista dos princípios alfabético e ortográfico que possibilitem ao aluno ler e escrever com autonomia” (VAL, 2006, p. 19).

             “A alfabetização diz respeito à compreensão e ao domínio do chamado código escrito, que se organiza em torno de relações entre a pauta sonora da fala e as letras (e outras convenções) usadas para representá-la, a pauta, na escrita” (VAL, 2006, p. 19).
                              
                          “A alfabetização se ocupa da aquisição da escrita por um indivíduo ou grupo” (BATISTA, 006)


Textos:   

Livro:
Letramento: um tema em três gêneros – Magda Soares 

ETERNA LUTA...

Letra bastão ou cursiva?

Para quem convive em escolas e lida com as séries iniciais, dois assuntos são bastante discutidos e motivo de polêmica entre educadores e pais:
o estilo de letra a ser utilizado pelas crianças e os erros gráficos, sobretudo em produções de texto.
Nos dias atuais, temos a liberdade de criar e enfeitar, o que faz surgir as mais diferentes formas no traçado das letras.
Em relação ao estilo da letra a ser utilizada nas séries iniciais, a comunidade, de certo modo, cobra veladamente uma postura do professor no sentido de utilizar a letra do tipo imprensa no início do processo de alfabetização e,depois, fazer uso da letra cursiva que possui um traçado de letras ligadas tornando mais rápido o registro.
Em relação ao estilo de letra, Cagliari (1999, p. 104) afirma que
[...] é essencial que os alunos aprendam (e pratiquem) primeiro a escrita e ponham-se a escrever como eles acham que deve ser.
Somente depois, já mais familiarizados com o ato de escrever, serão levados a reconsiderar o que fizeram, em função das normas ortográficas.
Um grande marco na história da humanidade foi a invenção da escrita que surgiu e se desenvolveu da necessidade de o Homem armazenar informações - reforçando a memória - e de se comunicar a uma distância além do alcance da voz.
Segundo Cagliari (1999, p.15), "A escrita pelo que se sabe hoje, começou de maneira autônoma e independente, na Suméria, por volta de 3300 a.C. É muito provável que no Egito, por volta de 3000 a.C., e na China, por volta de 1500 a.C., este processo autônomo tenha se repetido".
Para chegar ao alfabeto atual, a escrita passou por muitas alterações. Utilizada pelo homem primitivo para registrar fatos ocorridos, a escrita pictográfica (desenhos) ainda hoje é encontrada em escavações arqueológicas, demonstrando ser antiga a idéia de escrever.
O fonetismo, por sua vez, é um sistema no qual as palavras passam a ser decompostas em unidades sonoras, aproximando a escrita da sua função que é a de interpretar a língua falada. Utiliza a leitura de figuras que terão sentido de palavras por meio do som, recurso usado nas cartas enigmáticas.
A escrita continuou evoluindo, passando a ser silábica. Nesse sistema, a palavra é decomposta em um conjunto de sons.
Chegamos ao alfabeto - cujo termo tem origem nas duas primeiras letras do alfabeto grego, alfa e beta - que, de fenício passou a grego, ao romano e, finalmente, ao latino, o mais utilizado em todo mundo.O sistema alfabético é caracterizado pelo fonetismo, sistema em que cada símbolo (letra) corresponde a um som.
Esse conjunto de letras que chamamos de alfabeto torna-se o início da nossa estrada rumo ao universo escrito.
O ESTILO DAS LETRAS
Assim como o alfabeto, a escrita também foi se adaptando. Escrever sobre papiro e, mais tarde, sobre pergaminhos exigia um traçado de letras mais arredondado, ou seja, materiais diferentes de escrita exigiam abordagens diferentes.
De acordo com Cagliari (1999), os sumérios substituíram o risco na argila por um processo de pressão que permitia que desenhassem afundando marcas nos tabletes.Cagliari (1999, p.187) explica que "Um simples olhar no mundo da escrita com a qual temos contacto hoje nos mostra tanta variação na forma gráfica que, por um momento, surge a dúvida: como conseguimos ler em meio a este aparente imenso caos?"
escrita segue regras claras e rigorosas que devem ser transmitidas às crianças durante o processo de alfabetização. Assim sendo, a aparente confusão não causará medo, pois estamos diante de um fato: uma complexidade gráfica. O MUNDO DAS LETRAS
Existem, na nossa língua, várias maneiras de registrar graficamente a mesma letra. O som também vai depender da palavra na qual esta letra estiver colocada. Este caráter gráfico e social é estabelecido pela ortografia.
Existem palavras em português que a letra A representa som de /ã/, como em lama, dama, cama, som de /ai/, como em rapaz, paz, atrás. Assim sendo, é difícil determinar o valor de cada letra dentro do sistema alfabético. Muitas vezes, a letra muda seu som, sem, contudo, mudar sua forma: continua sendo a letra A.Estas variações de sons são trabalhadas ao longo de todo processo de alfabetização,cabendo ao professor apresentar às crianças as letras do alfabeto, bem como suas variações, como nos exemplos acima.
Conforme Cagliari (1999, p.49),[...] primeiramente, apenas o alfabeto de letras de forma maiúsculas. [...] este procedimento não é apenas uma moda: é uma forma mais fácil, concordam todos de se chegar ao aprendizado da leitura. Embora muitos professores possam constatar essa maior 'facilidade' na prática do seu dia-a-dia, talvez nem todos saibam realmente as razões por trás desse fenômeno.Para dominar o mundo das letras, a criança passa pelo processo de alfabetização, cabendo ao professor optar por mecanismos que otimizem o processo.
LETRA DE IMPRENSA OU CURSIVA?
Mas, e agora?
O alfabeto foi aprendido, os valores sonoros de cada letra também. As palavras viraram histórias e eis que vem a pergunta:
"Posso escrever com letra pegada?".
A criança sente necessidade de uma auto-afirmação, e a letra do tipo imprensa parece não mais atender ao seu desejo, pois ela a vê como letra de criança pequena.
Como agir?É com as letras tipo imprensa que as crianças têm um maior contato desde cedo, em jornais e revistas, o que resulta em uma elaboração de hipótese sobre a escrita muito precocemente. O traçado é simples, dando à criança liberdade ao ato de escrever, favorecendo a percepção das unidades e diminuindo o esforço motor.
A letra cursiva é mais rápida de ser traçada, porém exige da criança uma coordenação motora mais definida.De acordo com Cagliari (1999 p.41),A escrita cursiva tinha dois problemas: por ser feito com rapidez, o traçado das letras tendia a se modificar na escrita de cada um - por outro lado, a escrita cursiva produz ligaduras.
Depois de unidas as letras, o aspecto gráfico pode mascarar os limites individuais das letras, gerando confusões entre os usuários.
É mais importante que a criança compreenda e entenda a função e as características da escrita do que se preocupe com o tipo de letra a ser utilizado. "Em primeiro lugar, é preciso ensinar a escrever e, somente depois, deve-se preocupar com os requintes da escrita" (CAGLIARI E CAGLIARI, 1999, p.79).
Entretanto, não é o que geralmente ocorre. Alguns professores, ainda nos dias atuais, insistem em utilizar somente a letra cursiva depois de um determinado período, deixando alguns alunos bastante confusos.
De acordo com Tafner e Fischer (2001, p.19),O mundo está escrito em letras de forma. O mesmo mundo onde a criança vive cresce e aprende. Não espere dela um desenvolvimento pleno em cursivas quando tudo o que ela lê em torno dela é escrito com letras de forma. As letras de forma são naturais para ela, pois fazem parte do seu mundo.
A escrita cursiva tem um uso exclusivamente pessoal e, com o desenvolvimento tecnológico, a escrita a mão quase deixou de ser feita. As letras cursivas viraram arte nas mãos de pessoas que têm o dom de escrevê-las em convites, cartazes, murais etc.No dia-a-dia, a escrita cursiva acabou perdendo um pouco sua importância.
Porém, na escola, ela continua sendo motivo de discussão entre alguns educadores.
Existem professores que acham que se os alunos escreverem com a letra do tipo bastão não aprenderão a escrever com a letra cursiva, como se o alvo a ser atingido na alfabetização fosse o de escrever "redondinho" e igual a todos os outros alunos.
Na visão de Cagliari (1999, p.109),O bonito da verdadeira educação é ser um caleidoscópio: a diferença a todo instante é seu charme e beleza; cada momento revela algo de novo e surpreendente. A educação deve formar pessoas diferentes, não clones, réplicas intelectuais.Ao lidar com crianças, é preciso ter em mente que elas são seres individuais e únicos, bem como que "Na educação se propõe, e não se impõe"(Cagliari,1999. p.111).O importante é compreender o que está escrito. Se for estabelecida uma comunicação entre professor e aluno, a finalidade da escrita estará cumprida.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo foi elaborado com o intuito de levar pais e professores à reflexão sobre o tipo de letra usado pelas crianças e sobre seus erros gráficos, assuntos que fazem parte do dia-a-dia escolar.A utilização da letra de imprensa ou cursiva não deve ser o foco principal de discussão em uma escola, e sim a importância da escrita, feita com qualquer tipo de letra, desde que existam comunicação e registro de idéias.Ninguém nasce sabendo, e a aprendizagem é algo bastante subjetiva. Podemos aprender mais facilmente alguns assuntos que outros, o que não significa que sejamos melhores ou piores. Significa apenas que somos indivíduos diferentes, sendo que esta diferença é que faz da educação algo maravilhoso em que a rotina não tem vez.
Vamos, portanto, deixar que as crianças escrevam e que exercitem sua liberdade de registrar idéias como quiserem.
Todo o restante será conseqüência de um trabalho feito com amor. O maior privilégio de um professor é poder caminhar lado a lado com os seus alunos, observando seus progressos, auxiliando nos seus tropeços, sempre pronto para estender a mão.

REFERÊNCIAS

CAGLIARI, Gladis Massini; CAGLIARI, Luiz Carlos. Diante das Letras: a escrita na alfabetização. São Paulo: Fapesp, 1999 (Coleção Leituras do Brasil)CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetizando sem o Ba -Bé - Bi - Bó - Bu .1. ed. São Paulo: Scipione, 1999.FERREIRO, Emília. Com todas as letras. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2000.FISCHER, Julianne. Sugestões para o desenvolvimento do trabalho Pedagógico. Timbó: Tipotil, 1997.TAFNER, Malcon Anderson; FISCHER, Julianne. Manga com leite mata: reflexões sobre os paradigmas da educação. Indaial: Ed. Asselvi, 2001.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

SAMBA CRIANÇA!

Samba Menino, a história do samba

Quem acompanha este blog, o twitter e a nossa página no Facebook já sabe que nos interessamos e divulgamos assuntos ligados a tecnologia, sustentabilidade, política, ideias criativas, dicas para micro e pequenas empresas, direitos dos animais e infantis. Hoje o tema do post é a cultura brasileira e vou apresentar a vocês um projeto muito bacana que tem como objetivo contar e cantar a história do samba para a criançada.
Não deixa o samba morrer / Não deixa o samba acabar / O morro foi feito de samba / De samba para gente sambar
No dia 29 de dezembro, a Pé de Limão esteve presente no relançamento do livro Samba Menino, no espaço cultural da editora Multifoco, na Lapa. O autor da obra, um grande amigo meu, é o Raphael Moreira, publicitário, músico, produtor e agitador cultural. O Rapha é componente dos grupos de samba Bebadosamba, Um Pingo é Letra e Naquela Mesa. Difícil é saber como ele consegue tempo pra fazer tanta coisa!
Raphael Moreira
Participar deste evento nos proporcionou um grande prazer, pois uniu a emoção de rever alguns amigos, de divulgar um trabalho que valoriza a cultura popular brasileira e a satisfação de ouvir um repertório delicioso com sambas de qualidade em arranjos empolgantes, entre eles “A voz do morro”, “Tia Eulália na Xiba”, “Pelo telefone” e “Retalhos de cetim”, que praticamente me impediam ficar parada!
Apresentação do BebadoSamba
O show contou com a participação de João Martins, cantor e compositor, filho do Wanderson Martins, cavaquinista e arranjador do Martinho da Vila. E para coroar a noite, fomos brindados com a presença do padrinho do BebadoSamba, o cantor Ataulfo Alves Junior, que nos encantou com a sua bela voz e com algumas histórias de seu pai, Ataulfo Alves, compositor e cantor de pérolas do samba como “Ai que saudades da Amélia”, em parceria com Mario Lago; “Na cadência do samba”, com Paulo Gesta e muitas outras. Foi muito bacana conhecer a história que originou a música “Pois é”, um grande sucesso de Ataulfo Alves, lançada em 1954.
Pois é / Falaram tanto que desta vez / A morena foi embora / Disseram que ela era a maioral / E eu é quem não soube aproveitar / Endeusaram a morena tanto, tanto / Que ela resolveu me abandonar / A maldade nessa gente é uma arte / Tanto fizeram que houve a separação / Mulher a gente encontra em toda parte / Mas não se encontra a mulher que a gente tem no coração.
João Martins, Ataulfo Alves e Ataulfo Alves Junior
Conversamos com o Rapha para saber um pouco mais sobre o projeto. Confira!
Há quanto tempo o Grupo BebadoSamba está na estrada?
Faremos 7 anos agora em 2012.
Quem faz parte do grupo?
Na ordem que entraram para o grupo: Raphael Moreira (pandeiro, voz e produção), Bruno Santos (violão, voz e arranjos), Luizinho Croset (cavaco), Thiaguinho Castro (percussão), Mariana Luduvice (voz) e Felipe Miranda (sax e flauta).
Qual é a principal característica do grupo?
A proposta do Bebadosamba é fazer algo diferente, homenageando e difundindo a nossa cultura brasileira. Costumamos misturar sambas com choros em arranjos realmente diferentes. Imagine só, juntar Jacob do Bandolim e Stevie Wonder? Tocamos “Pedacinhos do Céu” (choro) com a música de Stevie Wonder “Isn´t She Lovely”. Flertamos com outros gêneros como o forró e o sambalanço.
Era uma vez um menino chamado Semba.
Depois de um bom tempo crescendo e evoluindo no nosso Brasil, semba virou samba, que virou a linguagem e a representação de nosso povo brasileiro.
Como surgiu a ideia do projeto Samba Menino?
O Samba Menino é filho de outro projeto. Criei em 2004 o projeto “Um Resumo do Samba – uma viagem pela sua história” (www.umresumodosamba.blogspot.com) onde o Grupo Bebadosamba (na época ainda não tinha esse nome) contava a cantava a história do samba. Trabalhei devagar com esse projeto ao longo desse tempo. Chegamos a levá-lo a duas faculdades e apresentarmos em nossos shows. Em 2011, eu, já pai de 2 meninos, fui convidado pela creche para fazer uma apresentação musical aos amiguinhos do meu filho Matheus, de 3 anos. Foi aí que adaptei o “Um Resumo do Samba” para o “Samba Menino” e, graças a Deus, e a todos que me ajudaram (principalmente minha esposa Lene e meus amigos e companheiros Arlene Costa, Thiago Freitas e Bruno Santos) deu no que deu.
Apresentação do Projeto Samba Menino em creches e escolas
Como o projeto foi recebido nas escolas?
De uma maneira inesperada! Nossa, eu sabia que as pessoas gostariam porque a ideia é boa. Mas a recepção, principalmente das crianças, foi realmente surpreendente! Todas elas adoraram as histórias, fizeram perguntas, queriam tirar fotos. Apresentei para crianças de 2 a 14 anos e sentia a sinceridade delas. Foi realmente muito sincero. E contar com o apoio dos professores foi fantástico! Foi uma grande realização e estímulo para trabalhar mais em cima do projeto e lapidá-lo para que se torne cada vez melhor.
Quais foram as fontes de pesquisa para a criação do livro?
Tive como orientador de monografia na faculdade de comunicação o ilustre Ivan Proença. Ele é especialista em Cultura Brasileira e foi meu pilar desde antes do livro. O projeto “Um Resumo do Samba” surgiu por conta de uma aula dele que coincidiu com uma exposição que visitei. Apresentei primeiro em sua aula e tive seu aval. A partir daí segui em frente. Li alguns autores como Muniz Sodré, Nei Lopes, Roberto M. Moura e André Diniz. Não me desgrudei do Dicionário da MPB do Cravo Albim. Considero o melhor de todos os livros! Adoro aquele dicionário. E por falar nele, um grande amigo, jornalista e poeta, Sergio Gramatico Junior, que hoje é pesquisador do Instituto Cravo Albim, nos deu a honra de virarmos verbete do dicionário no ano passado! É uma coisa mais maravilhosa que a outra acontecendo.
Fale um pouco sobre a sua relação com o cantor João Martins.
Começamos a tocar juntos em 1999, no primeiro grupo de samba que tivemos. Fico feliz pela consideração e o carinho dele em abraçar o Bebadosamba e o projeto “Samba Menino”. Eu o convidei para compor a música tema do projeto comigo. Estamos terminando, mas posso adiantar que está ficando linda! É mais um filho, além dos meus dois, Matheus e Gabriel, do meu livro e do meu fusca!
Quais são os próximos passos do projeto Samba Menino?
Estamos fechando alguns shows do “Samba Menino”. Temos uma apresentação voltada ao público infantil, como as que apresentamos nas creches e escolas, e uma mais adulta. Ambas baseadas nas histórias do livro.
Como foi montado o repertório do show Samba Menino?
Cada música foi cuidadosamente colocada para representar um trecho do livro. Estamos também trabalhando numa trilha própria para ele. Nisso, meu amigo João Martins está comigo pra me ajudar!
O livro Samba Menino pode ser adquirido com o Raphael (raphael.pereiramoreira@gmail.com) ou com a Editora Multifoco.